Patronesse
Stanil Martins Araújo (1927 -1947) nasceu em Palmas-PR onde iniciou sua educação formal, passando por Blumenau-SC, Ponta Grossa-PR e aos 16 anos, o curso de Química Industrial pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) concluindo com grande brilhantismo, mantendo seu histórico de 1° e 2° lugar durante sua formação. Seu espírito inovador, contrariando os pais, levou-a para São Paulo em busca de estagiar para especializar-se em “óleos vegetais”. Em seu retorno, sua vida foi abreviada por acidente de trânsito e após 6 meses, acamada em Hospital, falece com apenas 20 anos. Uma vida breve, mas com a escolha de fazer o bem ao outro, pois ao invés de passeios, cinema e bailes - como a maioria das jovens da época -, aos domingos ia ao Instituto de Cegos, onde passava longas horas contando histórias e piadas. Em uma de suas crônicas ela compartilha sua visão de vida:
FOI ASSIM QUE COMPREENDI A VIDA
Num dia triste e sombrio, em que nuvens corriam em revelia pelo céu, vim ao mundo. Impulsiva, rebelde, não resisti à prisão de nove meses e, assim, fora de tempo cheguei à Terra. Tantas ilusões tecera a seu respeito…. Sentindo a liberdade plena, atônita, quietinha, nem chorei sequer. Tão pequenina e tenra - diziam todos, ao fitarem meu corpinho magro. Fui compreendendo a realidade, estarrecida, observava tudo, sem um gemido ou lágrima sequer. Papai e Mamãe inquietos, averiguavam qual a causa de minha depressiva quietude. Depois de 24 dias de analisar o mundo e sua tortura, não resisti mais e a altos brados, chorei, desesperadamente. Perdi o fôlego de tanto gritar. Imaginem só, correu campanha, regando a lágrima do meu desespero. A vizinhança toda acudiu em riso cristalino! A pequenita estava salva! Fui crescendo inquieta, viva, alvissareira, mas não podia compreender porque a felicidade não sorria para todos que tinham sempre uma queixa, um desespero na alma. Sendo moça, na flor da idade, no entanto eu sofria pelos outros, pois o coração sempre revolto era um mar bramindo contra as injustiças humanas. Depois o sofrimento chegou em minha vida. Quis revoltar-me a princípio mas, serenando o pensamento, secando as lágrimas vertidas, fui meditando nesta vida: eu estava alí acabrunhada e magra, sem poder mexer um dedo sequer, eu, moça alegre e feliz, compreendia a grande virtude da resignação… Mas eu tinha tanta saudade da vida que brilhava lá fora, da folha verde, do céu azul, das rosas que desabrocham indiferentes à minha dor. Eu tinha apenas vinte anos… E assim, quando desenganada pelos médicos, me aplicavam uma injeção de coramina para desencargo de consciência, eu voltei ao corpo somático da Terra. Oh, não morreu, milagre, é a mocidade que resiste! Quanto engano!... Nasci de novo. Tão diversas da primeira vez. Resignada e paciente, aprendi a ser feliz. As pequeninas insignificâncias me deslumbram, um céu brilhante, um pássaro cantando…. E as grandes dores da humanidade eu procuro serenar numa prece a Deus. Já não sou a mesma e assim é, quem no mundo sofre: aprende a ter fé na vida, para chegar feliz no Além. Praticando o bem e a caridade. Amando ao próximo, enxugando uma lágrima e pensando sobretudo existir um Pai que é Justo!
1972 - 1° Ocupante
Maria Alba Mendes Silva Gastão Barbosa Xavier (1928 - 2023) advogada e jornalista, nasceu em Campo Largo-PR, iniciou sua carreira literária aos 15 anos publicando crônicas no ‘Diário da Tarde’ com o pseudônimo “Marilba”. Publicou o jornal ‘O Guarani’ e dirigiu os jornais ‘Brasília do Sul' e ‘Album Político do Paraná’; colaborou com diversos jornais e revistas. Como escritora foi cronista e contista, vencendo concursos; fazendo parte de vários centros culturais incluindo a Academia de Letras ‘José de Alencar’, ingressando aos 18 anos; a Imprensa Estrangeira de Lisboa, Portugal; o Centro de Letras do Paraná obtendo, em 1961, o 1° lugar com o conto ‘Decisão’ e o 3° lugar com o conto ‘Obrigações Religiosas’. Mãe de um filho.
1° Concurso de Contos e Poemas ‘Clotário Portugal’ (1978) conto ‘Genocídio’:
… Usava bigode e escurecera os cabelos que deixara crescer para não ser reconhecido, mas eu o reconheceria de qualquer jeito, em qualquer parte do mundo!
Meritíssimo Juiz, senhoras e senhores, não posso descrever o que senti naquele minuto que se eternizou em minha alma como foto! Não sei se foi o ódio gigantesco, ou o desprezo, ou vontade de amaldiçoá-lo, ou piedade!... Não, piedade não podia ser, porque eu já não conhecia mais tal sentimento. Aquele ser que ali estava, usurpando o lugar de um operário decente, tirando-lhe a oportunidade de trabalhar para sustentar a família, aquele ser era um monstro! Não merecia estar livre, não merecia sequer estar VIVO! Era um réptil, um covarde e monstruoso assassino!
…
Publicações:
Meu Primeiro Caderno - curiosidades e crônicas, 1968.
Sonho Verde, 1982.
Croniquinhas de Arthur e Andressa, 2005.
Minhas Crônicas, 2012.
Minhas Crônicas II, 2015.
Fonte:
1- Acervo histórico da Academia Feminina de Letras do Paraná.
2- Pioneiras do Brasil - Maria Nicolas, 1977, ocupante da Cadeira n° 24 na AFLPR.
Post elaborado por Tereza Karam, ocupante da Cadeira n° 28 e Diretora de Comunicação na Gestão 2024 - 2026.
Comments