Patronesse Júlia Wanderley
Júlia Wanderley (1874 - 1918) nasceu em Ponta Grossa - PR e residiu em Curitiba - PR. Iniciou seus estudos com professores particulares, ingressando no curso secundário em 1889, concluindo-o no Ginásio Paranaense. Enfrentando preconceitos, conseguiu matricular-se na Escola Normal, em 1890. Naquele ano, liderou o movimento para o ingresso de moças no educandário até então, aberto somente para o sexo masculino. Foi a primeira aluna da tradicional casa de ensino, recebendo o diploma de professora normalista em 21 de novembro de 1892. Assumiu em 1895 a direção da Escola Tiradentes. Conquistou o posto de membro efetivo do Conselho Superior de Ensino Primário do Estado, em 1915 e era conhecida como uma professora rígida, mas justa. Seu busto, talhado por João Turin em 1927, está localizado no Memorial de Curitiba. O Grupo Escolar do Bigorrilho em 1946, passou a ser denominado ‘Julia Wanderley’ e em 1973 é instituída a Cadeira n° 2 na Academia Feminina de Letras do Paraná, sendo ocupada em 1974 pela professora e poetisa Helena Kolody. Não teve filhos biológicos, mas adotou seu sobrinho como filho.
ARTIGOS:
‘História do Paraná’ de Romário Martins - 1899
‘Corografia’ do Professor Sebastião Paraná - 1900
‘Segundo Livro de Leitura’ de Claudino dos Santo - 1904
1974 - 1° Ocupante
Helena Kolody (1912 - 2004) é a primogênita de casal de ucranianos que no Brasil se conheceram e se casaram. Após viver no estado de Santa Catarina, Helena vem com a família para Curitiba, em 1927, quando já estudara piano, pintura e escrevia versos. Formou-se na Escola Normal Secundária (atual Instituto de Educação), onde veio a lecionar por muitos anos. A densidade do seu trabalho lhe trouxe reconhecimento em vida e a fez ser considerada expoente entre nossos poetas, rendendo-lhe inúmeras homenagens. Foi a segunda mulher a assumir uma cadeira na tradicional Academia Paranaense de Letras, ocupando a Cadeira n° 28. Reconhecida e venerada, não apenas por seu belo trabalho poético como pela doçura, gentileza e delicadeza com que a todos tratava. Exercitou variadas formas poéticas, do haikai ao soneto. Seus poemas revelam a beleza de imagens, a profundidade semântica, a linguagem concisa e precisa, a musicalidade. Em 2005, a Assembléia Legislativa do Estado do Paraná aprovou a lei n°14.821 instituindo o dia 12 de outubro como ‘Dia da Poesia Paranaense’ e a Câmara Municipal de Curitiba aprovou a lei n° 11.515 no mesmo ano, instituindo o dia 12 de outubro como o ‘Dia da Poesia Curitibana’ em comemoração a data de seu nascimento.
Publicações:
Paisagem Interior, 1941 (2ª edição 1950).
Música Submersa, 1945.
A Sombra no Rio, 1951 (2ª edição, 1957).
Trilogia, separata de Um Século de Poesia, livro editado pelo Centro Paranaense Feminino de Cultura, 1959.
Poesias Completas (editado por seus alunos, como homenagem aos seus 50 anos), 1962.
Vida Breve, 1964.
20 Poemas, 1965.
Era Espacial e Trilha sonora, editados em um único volume, 1966.
Antología Poética, 1967.
Tempo, 1970.
Tempo II - Viagem no Espelho, 1970.
Correnteza, 1977.
Infinito Presente e Saga, 1980.
Poesias Escolhidas, tradução de Wira Wowk, para o ucrania- no, de 22 dos seus poemas, 1983.
Sempre Palavra, 1985 (2ª edição, 1986).
Poesia Mínima, 1986.
Viagem no Espelho, 5 edições: 1988, 1995, 1997, 1998, 1999.
Ontem Agora, 1991.
Reika, 1993 (na série Buquinista, da Fundação Cultural de Curitiba).
Caixinha de Música, 1996.
Luz Infinita, edição bilíngue português/ucraniano, 1997.
Helena Kolody por Helena Kolody, 1997 - CD, Coleção Poesia Falada.
Viagem no Espelho e Vinte e Um Poemas Inéditos, 2001, edição comemorativa dos sessenta anos de lançamento do primeiro livro, Paisagem Interior.
Haikais, 2001.
Memórias de Nhá Mariquinha, 2002, prosa (reconstituição de episódios de vida narrados por Nhá Marica Barbosa, em Castro-PR, em 1944). Edição/patrocínio: Museu Tropeiro de Castro.
Poemas do Amor Impossível, 2002.
Viaggio nello specchio, traduzione dal brasiliano di Domenico Corradini H. Broussard, 2003, editado pela Tipografia Editrice Pisana, Pisa, Italy.
Antologia ‘Um século de poesia: poetisas do Paraná’ - Centro Paranaense Feminino de Cultura, 1959.
Antologia: Letras paranaenses, 1970.
SONHAR
Sonhar é transportar-se em asas de ouro e aço
aos páramos azuis da luz e da harmonia;
é ambicionar o céu; é dominar o espaço,
num voo poderoso e audaz da fantasia.
Fugir ao mundo vil, tão vil que, sem cansaço,
engana, e menospreza, e zomba, e calunia;
encastelar-se, enfim, no deslumbrante paço
de um sonho puro e bom, de paz e de alegria.
É ver no lago um mar, nas nuvens um castelo,
na luz de um pirilampo um sol pequeno e belo;
é alçar, constantemente, o olhar ao céu profundo.
Sonhar é ter um grande ideal na inglória lida:
tão grande que não cabe inteiro nesta vida,
tão puro que não vive em plagas deste mundo.
2023 - 2° Ocupante
Luísa Cristina dos Santos Fontes é professora aposentada da Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde dirigiu por 8 anos as revistas acadêmicas: Uniletras e Publicatio UEPG e supervisionou a Editora da Universidade. Mestre em Linguística, pela mesma instituição. Doutora em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), orientada pela Dra. Zahidé Lupinacci Muzart, concluiu em 2012, ano do centenário de Helena Kolody, a tese “Helena Kolody, carbono & diamante, uma biografia ilustrada”. Como pesquisadora do GT Nacional A Mulher na Literatura, tem desenvolvido há cerca de 30 anos pesquisas a respeito da literatura produzida por mulheres, com dedicação às primeiras escritoras, apresentadas em livros, simpósios, palestras, entrevistas, vídeos, artigos em revistas acadêmicas e jornais. Luísa tem uma felicidade contagiante com seu olhar viajante sobre a vida e é uma bibliófila, responsável pela biblioteca da Academia dos Campos Gerais da qual foi presidente fundadora, além de integrar outros centros culturais como o Centro de Letras do Paraná.
Publicações:
Anita Philipovsky - a princesa dos campos, 2002.
Literatura e mulher - das linhas às entrelinhas, 2002.
Relicário de Anita, 2002.
O percurso de um poema, 2013.
A literatura de autoria feminina em suas interdi(c)cões, 2015.
Mulher e literatura - vozes consequentes, 2015.
Biobibliografia da Academia de Letras dos Campos Gerais, 2015.
Roteiro Literário - Helena Kolody (Biblioteca Pública do Paraná), 2018.
As Janelas de Leonilda da escritora Leonilda Hilgenberg Justus, 2021.
Estudinho sobre a origem da Saudade, 2023.
Vozes de Emília: a trajetória da escritora Emília Dantas Ribas, 2023.
Mário de Sá-Carneiro sobre a prosa, 2023.
Memorial do Bicentenário de Ponta Grossa e Jaguariaíva, 2023.
Sobre “Origem” (aquarela eslavo-brasileira), de Helena Kolody
Origem
Na memória do sangue,
há bosques de bétulas,
estepes de urzes floridas,
canções eslavas.
Arde o trópico nos nervos.
Crepita a alegria da pátria jovem.
A alma se aquece na chama das cores.
Dança o coração em ritmo sincopado.
Ao lado de “Saga”, “Exilados”, “A voz das raízes”, “Refugiado”, “Imigrantes eslavos”, “Lição”, “Emigrante”, “Atavismo” e outros, “Origem (aquarela eslavo-brasileira)” propõe uma reflexão sobre a identidade calcada na diferença.
A questão da imigração, histórica também no Brasil, retorna nos versos livres, simples e fluentes de “Origem”.
A primeira estrofe reflete a pátria de seus antepassados, perceptivelmente pela escolha vocabular – bosques de bétulas, estepes, urzes, canções eslavas.
Na segunda, há a musicalidade dos recursos fonéticos empregados, notadamente uma alternância de fonemas vibrantes (/r/, /R/) e oclusivos (/k/, /p/, /t/, /g/, /d/), o que parece sugerir que ouvimos um batuque.
Em entrevista concedida a Paulo Leminski, Helena Kolody comenta sobre o poema, que foi publicado pela primeira vez no livro Tempo (1970): “Nesses versos está vibrando a minha alegria de ser brasileira, de ser um coração que dança em ritmo sincopado, que é o ritmo do samba.”
Fonte:
1- Acervo histórico da Academia Feminina de Letras do Paraná.
2- Antologia ‘Um século de poesia: poetisas do Paraná’ - Centro Paranaense Feminino de Cultura, 1959.
3- Antologia ‘Letras Paranaenses’, 1970.
4- Antologia ‘Sesquicentenário da Poesia Paranaense’ - Pompília Lopes dos Santos, 1985, patronesse da Cadeira n° 39 na AFLPR.
5- Antologia 'Ajebianas no voo da palavra', 1993.
6- Helena Kolody - Infinita poesia - Adélia Maria Woellner, 2011, ocupante da Cadeira n° 18 na AFLPR.
7- Coletânea da Academia Paranaense da Poesia, 2012.
8 - Roteiro Literário Helena Kolody - Luísa Cristina dos Santos Fontes, 2018, ocupante da Cadeira n° 2 na AFLPR.
Post elaborado por Tereza Karam, ocupante da Cadeira n° 28 e Diretora de Comunicação na Gestão 2024 - 2026.
“Quem bebe da fonte que
jorra na encosta, não sabe do
rio que a montanha guarda.”
Helena Kolody
“Estou sempre em viagem.
O mundo é a paisagem que
me atinge de passagem.”
Helena Kolody
Inspiração pura na história, poema e imagens