Todos os anos, festejamos alegremente a passagem daquele dia que está fenecendo e abrindo caminho para um novo ano. Com mil projetos e desejos às vezes utópicos, sentimos as vibrações positivas do início do calendário. O ano novo se instala com os augúrios de paz e felicidade, e segue o seu curso. Os dias se sucedem sem grandes mudanças para uns, enquanto que, grandes reviravoltas acontecem na vida de outros. O calendário impassível, nos aponta os dias e os meses que passam voando, com a rapidez de uma águia. Ao nascer de cada dia, apreciamos o sol com seus primeiros raios despontando no horizonte, numa verdadeira apoteose, nos presenteando com este espetáculo da natureza como um show de brilho e beleza encantando os nossos olhos.
O relógio, rígido qual um oficial militar, conta os segundos, os minutos, e as horas, logo nos trazendo a lua, inseparável companheira das noites e das madrugadas. O calendário continua virando os dias e os meses, com a mesma determinação do relógio, que juntos trabalham numa total cumplicidade. Triste, é reconhecer a nossa incapacidade de parar o tempo e fazê-lo voltar ao dia feliz, que já passou. Nosso tão decantado calendário, também passa, e, no entanto, pertinaz, nos ilude apontando festas de carnaval, temporadas de praia, viagens e outras alegrias, com intuito de nos distrair e não perceber o tempo passar.
Os dias continuam sua jornada, e logo, nos deparamos com os festejos de Páscoa, ovos, coelho e chocolates. Que lindo! O outono chegou, e o mês de abril se apresenta com belos dias ensolarados e o céu de um azul-anil profundo, e uma brisa que sopra mais fresca. Em breves passadas, entramos no mês de maio. Mês das mães, mês de Maria e das noivas. Ficamos todos preparando surpresas e presentes na ânsia de agradar, e demonstrar o nosso amor pela querida mãe neste dia a ela dedicado. Num piscar de olhos, entramos em junho, início do inverno; é chegada a hora de puxarmos os nossos agasalhos com o frio das primeiras geadas nos fazendo tremer, sentindo a diferença da temperatura.
Com o inverno, chegam os festejos de S.João com belas fogueiras, balões e quadrilhas dançadas na festa do arraiá, onde comemos pinhão, doce de abóbora, pipocas e pé de moleque. O julho é dedicado às férias dos filhos, e as famílias saem em viagens de lazer. Iludindo-nos novamente, o calendário nos entrega o agosto, com o dia do papai, presentes, almoço e reunião familiar. Enfim, chegou setembro com os primeiros ipês floridos anunciando a primavera. Os feriados nacionais, os desfiles alusivos à Pátria e as flores enfeitando os nossos jardins. Já estamos praticamente no final do ano, vencendo o outubro e o novembro, entramos no mês do encantamento, da fraternidade, da união e do amor. Dezembro, Natal! Alegria, família reunida, papai Noel, expectativas dos presentes e mesa farta. Em seguida, estaremos novamente festejando o ano novo numa constante repetição, e as crianças a cada ano crescendo, tornando-se grandes, adolescentes e adultos. Seguimos este ritmo, e ficamos cada ano mais experientes, e que tristeza, estamos envelhecendo.
O calendário, soberbo no início, também é vítima do tempo, que em dezembro já está com suas forças quase exauridas e prestes a ceder lugar para o novo ano que surge. Vamos conversar com o nosso Criador e tentar convencê-lo a deixar o calendário e o relógio mais lentos, com menos euforia e vitalidade. Que ambos andem bem devagar, para que nossas vidas não passem assim tão de repente.
Rita Caldas, professora primária e escritora premiada em diversos concursos, ocupante da Cadeira 21 na Academia Feminina de Letras do Paraná
O tempo passa e com ele nossa vida também! Uma crônica para lembrar da importância do ”calendário“.