Patronesse
Julia Maria da Costa (1944-1911) cronologicamente, a primeira poetisa paranaense. Nasceu em Paranaguá-PR vindo de família ilustre, viveu desde muito jovem até sua morte, na cidade de São Francisco do Sul, atualmente pertencente ao Estado de Santa Catarina e que anteriormente ao ‘Contestado’, pertencia ao Paraná. Em 1871, por injunção de sua família, casou-se com o Comendador Francisco da Costa Pereira, homem de 56 anos, alto comerciante, chefe político conservador, muito estimado pelos conterrâneos. O encanto envolvente da poetisa, sua meiguice e tristeza, inteligência invulgar, elegância apurada de seus trajes sempre brancos, sua delicada interpretação ao piano, impressionou os que a conheceram neste período de vida intensa e brilhante. Desde muito jovem colaborou em jornais do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul com suas poesias dentro do Romantismo, usando pseudônimos de ‘Americana’ e ‘Sonhadora’. De seu romance de mocidade com Benjamim Carvoliva (Carvalho de Oliveira) poeta, professor jornalista e músico, resta uma coletânea de primorosas cartas de amor, em prosa e verso, coletadas por Rosy de Macedo Pinheiro Lima, publicadas em 1953 com o título de ‘Vida de Julia da Costa’. Foi um belo talento poético, refletindo as tendências de seu temperamento e de toda uma época, as suas poesias revelam sensibilidade e inspiração. Viúva desde 1892, isolada e sem contato social, após quase vinte anos de reclusão, faleceu em 12 de julho de 1911. Sua história inspirou a escritora Teresa Teixeira de Britto, ocupante da Cadeira n° 23 a escrever o monólogo ‘Julia na Janela’, interpretado com uma leitura dramática pela poetisa e declamadora, Eliane Martins.
Publicações:
Flores Dispersas - Primeira série, 1867.
Bouquet de violetas, 1882.
Antologia ‘Um século de poesia: poetisas do Paraná’ - Centro Paranaense Feminino de Cultura, 1959.
DESESPERANÇA
Que céu formoso, que natura esta!
Tantos fulgores vem turbar minh’alma.
Meu Deus! se para uns a vida é tão calma
Porque p’ra mim ela é tão negra e mesta!
Em magos risos despertando a aurora
A flor do prado seu aroma exala!
Eu também vejo-a despertar...que fala
Soltarei d’alma que o passado chora?
A vida é negra! Nenhum astro ameno
Derrama luz que lhe afugente a treva!
Quero sorri-me! mas a dor me leva
Do peito aos lábios um saudoso treno.
Vejo floridos para o seu noivado
Os laranjais e a natureza inteira…
É tudo festa! na mimosa esteira
Da veiga amena, no florente prado…
Mas a esperança que dourou minh’alma
Da minha vida na estação da infância
Agora à tarde, já não tem fragrância
Que possa dar-me ao desassossego calma!
E a natureza tem eterna festa!
Da Felicidade nela vê-se a palma!
Meu Deus! se para uns a vida é tão calma
Porque p’ra mim ela é tão negra e mesta?
Dos verdes lustros na dourada aurora
Por entre rosas nos sorri a vida!
Mas de meu sonho é a ilusão perdida!
E geme o peito, enquanto a alma chora!
E a lira ali no laranjal cheiroso
Pendida em um galho se acalenta em prantos!
Ave cheirosa dos passados cantos
Nem ouve o eco no vergel formoso!
E a rosa branca do gentil valado
Se às vezes diz-lhe um amoroso voto,
Ela suspira e no futuro ignoto
Só vê a imagem do cruel passado!
1971 - 1° Ocupante
Aurora Cury ( 1913 - ?) professora, nasceu em Paranaguá-PR onde fez sua formação na Escola Normal de Paranaguá exercendo a função de professora primária na Escola Aplicação; diretora do Grupo Faria Sobrinho; professora da cadeira de Artes Aplicadas, prestando também, serviço na Biblioteca do Instituto de Educação em Curitiba-PR. Apresentou suas primeiras poesias em programa de rádio em Paranaguá em 1948. Seu livro ‘Penumbra’ obteve menção honrosa em 1949, em concurso do Centro de Letras do Paraná, sendo dele integrante, assim como, do Centro Paranaense Feminino de Cultura. Mãe de duas filhas.
SILÊNCIO
Façam silêncio: o coche vai passando,
E dentro dele vai quem já viveu…
Sorridente talvez, talvez chorando
Levou a vida desde que nasceu.
E ninguém sabe se morreu amando,
Ninguém sabe, também, o que sofreu.
Talvez a vida foi prazer nefando,
Talvez a vida só martírio deu.
Ei-lo que passa… o transeunte para,
Faz uma prece rápida e depara
Com a própria morte, toda a rir, contente.
Ela segue, afinal, em seu roteiro.
Com seu riso mordaz, vil, traiçoeiro,
Ceifando vidas, vai passando à frente…
Publicações:
Penumbra, 1951.
Alma e Coração - poesia, 1953.
Antologia ‘Um século de poesia: poetisas do Paraná’ - Centro Paranaense Feminino de Cultura, 1959.
1998 - 2° Ocupante
Janske Niemann Schlenker nasceu em Amsterdã, na Holanda, e veio com a família para o Brasil em 1934, estabelecendo-se em Petrópolis-RJ. Cresceu falando várias línguas: português, holandês, alemão e inglês. Ainda criança descobriu a inclinação para a poesia. Estudou música e foi organista. Escreveu suas primeiras poesias com 15 anos e aos 18 anos começou a publicá-las nos jornais ‘Tribuna de Petrópolis’ do Rio de Janeiro e ‘O Fanal’ de São Paulo. Em 1957 casou-se e passou a residir em Curitiba-PR. Seu primeiro livro, ‘Deixa que eu chore’, foi publicado em 1985 e foi premiado pelo programa Chamada Geral, com o apoio da Fundação Cultural e da Biblioteca Pública do Paraná. Em 1999 foi publicado ‘Deixa Que Eu Fale’, que contou com o apoio do Centro de Letras do Paraná, na ocasião sob a presidência da poetisa Adélia Maria Woellner, ocupante da Cadeira n° 18. Pertence a diversas entidades culturais e na Academia Paranaense de Poesia (APP) ocupa a cadeira n°16. Segundo o poeta Paulo Roberto Karam, em sua convivência com Janske assim ele a define: “Avessa às aparições e aos holofotes, Janske personifica o talento poético. Ela é o que é, grande artista, grande esposa, mãe e mulher”. Em sua carreira literária recebeu diversas premiações, sendo inclusive distinguida com a ‘Medalha de Mérito Fernando Amaro’ pela Câmara Municipal de Curitiba. Participou de diversas antologias em nível nacional.
SONETO SEM NOME
Andando... andando... e vendo o céu tão mudo,
Fiquei pensando nesta estranha vida.
Fiz do meu peito um poderoso escudo,
para que a dor não venha a ser sentida.
E vou andando... e sonho ter de tudo,
e penso ser, na imensidão perdida,
tudo o que é belo e faz sorrir. Contudo,
minha alegria às vezes é fingida...
Sou a ilusão que em parte alguma pousa
e o gargalhar que à própria dor resiste;
por sobre espinhos meu sonhar repousa...
Sou todo o riso que no mundo existe
e entre a ventura de ser tanta cousa,
tenho a ventura de também ser triste...
Publicações:
Deixa Que Eu Chore, 1985.
Deixa que Fale, 1999.
Deixa Que Doa, 2004.
Deixa-me Poetar, 2008.
Elegia - edição restrita.
Tristesse - edição restrita.
Deixa-me rir - edição restrita.
Fonte:
1- Acervo histórico da Academia Feminina de Letras do Paraná.
2- Antologia ‘Um século de poesia: poetisas do Paraná’ - Centro Paranaense Feminino de Cultura, 1959.
3- Julia da Costa: Biografia e Antologia - organizado por Paulo Roberto Karam, 2011.
4- Coletânea Academia Paranaense da Poesia, 2012.
5- Janske Niemann Schlenker: Biografia e Antologia volume 1 e 2 - organizado por Paulo Roberto Karam, 2012.
6- Julia da Janela - monólogo em um ato. Contendo a pintura de ‘Julia da Costa’ por Otália de Britto Zakovicz, 2014.
Post elaborado por Tereza Karam, ocupante da Cadeira n° 28 e Diretora de Comunicação na Gestão 2024 - 2026.
Poetisas que nos inspiram ontem, hoje e sempre!