Origem
(aquarela eslavo-brasileira)
Na memória do sangue,
há bosques de bétulas,
estepes de urzes floridas,
canções eslavas.
Arde o trópico nos nervos.
Crepita a alegria da pátria jovem.
A alma se aquece na chama das cores.
Dança o coração em ritmo sincopado.
Sobre “Origem” (aquarela eslavo-brasileira), de Helena Kolody
Ao lado de “Saga”, “Exilados”, “A voz das raízes”, “Refugiado”, “Imigrantes eslavos”, “Lição”, “Emigrante”, “Atavismo” e outros, “Origem (aquarela eslavo-brasileira)” propõe uma reflexão sobre a identidade calcada na diferença. A questão da imigração, histórica também no Brasil, retorna nos versos livres, simples e fluentes de “Origem”.
A primeira estrofe reflete a pátria de seus antepassados, perceptivelmente pela escolha vocabular – bosques de bétulas, estepes, urzes, canções eslavas.
Na segunda, há a musicalidade dos recursos fonéticos empregados, notadamente uma alternância de fonemas vibrantes (/r/, /R/) e oclusivos (/k/, /p/, /t/, /g/, /d/), o que parece sugerir que ouvimos um batuque.
Em entrevista concedida a Paulo Leminski, Helena Kolody comenta sobre o poema, que foi publicado pela primeira vez no livro Tempo (1970): “Nesses versos está vibrando a minha alegria de ser brasileira, de ser um coração que dança em ritmo sincopado, que é o ritmo do samba.”
Luísa Cristina dos Santos Fontes é doutora em literatura com a tese "Helena Kolody, carbono & diamante, uma biografia ilustrada" , ocupante da cadeira n° 2 na Academia Feminina de Letras do Paraná.
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