Cadeira nº01

Patrona

Nascida Virgília Stella da Silva Cruz em 20 de março de 1891, em Curitiba, sob o pseudônimo Rachel Prado se tornou nacionalmente conhecida. A filha de Joaquim Antônio da Silva, fundador do tradicional periódico A República e de Maria Eufrásia da Silva, iniciou aos 14 anos uma carreira jornalística sem precedentes para uma mulher de sua época.
Aos 18 anos, acompanhou a família de mudança para o Rio de Janeiro, onde, autodidata, adquiriu sólida cultura humanística. Foram em congressos internacionais que suas teses obtiveram o sucesso que lhe permitiu promover inúmeras campanhas. Cito algumas: alfabetização, a divulgação dos cursos de Enfermagem da Cruz Vermelha e da Escola Ana Nery, o amparo aos cegos, aos hansenianos, asilos, e hospitais infantis.
Líder feminista, acreditava na defesa dos direitos da mulher sob um ponto de vista moderado. Atuou na Comissão Interamericana de Mulheres ao lado de Minerva Bernardino, que viria a assinar, com Eleonor Roosevelt e Berta Lutz, a Declaração dos Direitos Humanos de 1948.
Como rábula, advogada prática da época, dedicou especial atenção a presidiários e sua reintegração à sociedade. Por muitos anos visitou presídios, e conseguiu a liberdade para muitos. Pelos menores delinquentes, prestou inestimáveis serviços ao Juizado de Menores. Visitou favelas e bairros pobres do Rio de Janeiro, pleiteou reformatórios de aspecto mais humano, apontou condições precárias de higiene e alimentação, bem como a necessidade de afastá-los do convívio com criminosos adultos. Sua esperança está retratada em seu artigo “Centelha Divina:”
“A voz do meu silêncio medita em torno do solitário e triste ser humano que sofre… Falo com o amor que me desperta aquele que se extravia, exalto-lhe com o poder da persuasão o quanto vale a sua amarga experiência, digo-lhe da esperança, exulto-lhe a coragem, a ânsia de vencer, de se redimir… e o homem triste e abandonado, encoraja-se, ergue o busto alquebrado, ele que só olhava a terra dos caminhos, levanta os olhos e contempla as estrelas.” (Marinha – n.º 39 – dezembro/1940).
A empreendedora Rachel Prado organizou o primeiro curso de Jornalismo Profissional do país e se tornou a primeira mulher editora. Sua Editora Rovaró publicou dezenas de obras de grande valor, dentre as quais destaco “O cerco da Lapa e seus heróis” de David Carneiro.
A ecologista Rachel Prado fundou o escoteirismo e organizou campanhas de reflorestamento.
A jornalista Rachel Prado teve seus trabalhos publicados em centenas de periódicos, dentre os quais Correio da Manhã, Diário Carioca, Jornal do Brasil, O Cruzeiro, O Globo, e Gazeta do Povo.
A escritora Rachel Prado firmou-se no gênero do conto infantil, e publicou ensaios, biografias, livros infantis, contos e romances em diversos países sul americanos, Estados Unidos e Itália. Como crítica de arte, discorreu sobre obras literárias, artes plásticas, produções musicais.
Mas sob a personalidade dinâmica e ativa, havia uma alma serena e contemplativa. Extremamente espiritualizada, participou ativamente da Ordem Teosófica, dedicando muitas de suas crônicas e livros ao teosofismo e a Annie Besant, sua fundadora. Mãe dedicada e carinhosa, confessava constantemente: “Tudo que sou, devo ao grande amor que tenho aos meus filhos, que foram o meu melhor estímulo para lutar e vencer.”
Aos cinquenta e dois anos, vencida pela tísica, consciente de seu legado, ela partiu serenamente em 25 de dezembro de 1943.
0000 - 1° Ocupante - Ilnah Pacheco Secundino de Oliveira não possui data de posse.
1976 - 2° Ocupante

Filha de Rômulo Hartley Gutierrez e Francisca de Macedo, Olga de Macedo Gutierrez brotou na cidade de Teixeira Soares, no interior do Paraná para se tornar, nas palavras do então presidente da Academia Paranaense de Letras: “Uma dessas mulheres capazes de transformar o mundo pela ternura e exemplo”.
Como segunda ocupante da cadeira numero 1 dessa instituição, a neta do ervateiro e coronel-comandante da Guarda Nacional, senhor Agostinho Ribeiro de Macedo, vivificou os ideais humanitários de luta e moderação por nobres fins ladeados por nossa patrona.
Aos cinco anos mudou-se para Curitiba e estudou na escola fundada pelo avô para alfabetizar seus funcionários. A Escola Isolada Vila Agostinho se tornou o Colégio Estadual Pietro Martinez e há 108 anos pulsa na antiga casa do coronel na confluência das ruas Nilo Peçanha e Agostinho Macedo. Em 1932, com a morte do avô, a família transferiu-se para o centro.
A estudante Olga passou a estudar no Colégio Progresso da Praça 19 de Dezembro. Frequentou o Instituto de Educação, formou se em Direito na Universidade Federal do Paraná em 1946. E não parou mais. Estudou Literatura Comparada, Biblioteconomia, Braille, Legislação Trabalhista, entre outros.
Olga, a economista, ganhou o Prêmio Renaux como primeira aluna nas cadeiras de Economia Politica e Finanças. Traduziu do espanhol o livro Finanças, de Vitti di Marco. Foi tesoureira na Legião Brasileira de Assistência. Olga, a advogada, prestou concurso na Copel, onde floresceu em competência e dedicação de 1962 a 1975. Assumiu as funções do chefe que adoeceu, mas não o seu cargo “porque era mulher”, lhe disseram. Sem se calar, cancelou sua inscrição na OAB, pediu transferência para outro setor, fundou o Coral da Copel do qual participou. A vida retrucou com um cargo importante em uma multinacional e um presente inusitado no primeiro dia: uma gravata masculina. Mas foi através do Curso de Braille que um mundo novo se abriu para a incansável realizadora. Em suas próprias palavras, publicadas em 1993 na coluna “Porta Retrato” de Túlio Vargas na Gazeta do Povo:
“Tive a sorte de encontrar em meu caminho os deficientes visuais. Após serem alfabetizados em braile pelo Instituto dos Cegos, frequentavam escolas comuns. Entusiasmada com esse trabalho, tornei-me voluntária. Fiz curso de braile. Daí em diante minha vida não teve um instante vazio. Eu tinha muito para dar. Tornei-me a ‘mãe solteira’ com o maior numero de filhos. Vivi meus dias com eles e, nos fins de semana, levava-os para casa. Trabalhei durante 16 anos até que o sistema pedagógico exigiu outras atividades. Continuei a prestar-lhes assistência, isoladamente, acompanhei uma menina durante cinco anos à Escola de Belas Artes, reestudei matérias de Direito para auxiliar minha filha do coração se tornar advogada. Tive a alegria de vê-la aplaudida em pé na noite de formatura. Deixei minhas atividades literárias de lado. Passei a montar peças de teatro para cegos.”
Olga a dramaturga escreveu diversas peças de teatro como O Progresso, que mereceu reportagem da TV Globo, no programa Fantástico, por ter sido a primeira vez que cegos se movimentaram normalmente em um palco.
Atenta ao mundo e às oportunidades, Olga resolveu prepará los para as Olimpíadas. Corria com eles nos treinos e acabou tendo uma estafa. Ela não era mais a jovem de 23 anos que em 1936 ingressou no Centro Paranaense Feminino de Cultura. Despediu-se dizendo: “Guardo em meu coração cada rosto, cada nome e agradeço a Deus por tê-los posto no meu caminho”. Era tempo de semear em outros corações.
Olga de Macedo Gutierrez pertenceu a várias entidades. Fundou o Clube Soroptimista. Foi a 1. Secretária da Associação de Jornalistas e Escritores do Brasil – Coordenadoria Paraná. Foi voluntária da Associação Feminina de Amparo ao Deficiente e Recém-nascido.
De 1953 a 2002, Olga escreveu 56 discursos com a alma e o coração. Publicados em 2003, são o testemunho de uma época, da sensibilidade, e de seu conhecimento literário, artístico e histórico. Sua beleza interior foi assim definida por Pompilia Lopes dos Santos, a fundadora da Academia Feminina Paranaense de Letras: “nossa “oradora vitalícia” é como “uma violeta, flor que se oculta””.
Olguinha, a pequena flor, se fechou em 2011, aos 87 anos, no dia 17 de abril.
2011 - 3° Ocupante

A décima quarta filha do ervateiro José de Lacerda e Cecília Brito de Lacerda foi muitas coisas na vida. Chegou Maria Thereza Brito de Lacerda, partiu “a francesa do casarão da Lapa”.
O vanguardismo de sua trajetória se inicia aos sete meses de idade. Interessada na algazarra das crianças que ouvia de seu berço, a pequena escalou as grades do berço de ferro. Lá do alto, percebeu que seria temeroso se lançar ao chão. Então permaneceu, firme e rubra, sem um lamento sequer, até ser resgatada. Diante da cena, o pai sentenciou: “Minha filha terá força e coragem para superar qualquer obstáculo”. Disso foi feita a vida de Eza, como era chamada. Vontade, coragem, sabedoria e ação.
A criança que escalava árvores, telhados e guarda-roupas galgou vitórias. Apaixonada pela obra de Monteiro Lobato, jamais se aproximou de seu autor favorito quando foram vizinhos em São Paulo. Entre a sua Rua Diamante e a paralela Rua Alabastro de Lobato imperava o equilíbrio que ela desenvolveu no alto das grades daquele berço. Mas a timidez não impediu que a proximidade a fizesse se sentir “Filha de Lobato da primeira geração”.
Cada vez mais próxima da mulher que viajaria o mundo com os olhos de passarinho e a liberdade dos cavalos de sua infância, sua volta ao Paraná foi marcada pelo apoio à candidatura de Rosy Pinheiro Lima. A maneira como, aos dezessete anos, se engajou na campanha da primeira mulher a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa do Paraná tornou-se uma lenda na terra dos pinheirais.
A Lapa de suas cavalgadas pelos campos outrora ensanguentados pela revolução federalista palpitava em seu peito e permeava suas atitudes. Aos dezoito anos, Maria Thereza assumiu a presidência do Centro Paranaense Feminino de Cultura numa gestão marcada por realizações, como a homenagem às enfermeiras voluntárias que prestaram serviço durante a 2a guerra mundial. Sem perceber, homenageou também nossa patrona e suas campanhas pelos cursos de enfermagem.
Tendo concluído o secundário no Colégio Estadual do Paraná, a jovem que conhecera Pégaso, o cavalo alado da mitologia grega que ajudou Belerofonte a exterminar o mostro Quimera, matriculou se na Aliança Francesa e na Escola de Serviço Social para, como desejava e acreditava, exterminar a pobreza no mundo. Dedicou-se de corpo e alma a esta causa, mas o prêmio veio da Aliança Francesa: uma bolsa para representar Curitiba em Paris.
Deixou para trás o curso de Assistência Social, a grande família e partiu para a terra de Flaubert, Balzac e Zola. Agora ela estava do outro lado. Aprendera a andar, o desafio era outro: em que direção seguir? Desvendou a efervescência parisiense, cruzou vários países, despojou-se de preconceitos e entendeu, no âmago de suas reflexões solitárias, que os livros seriam sempre os amigos de que não poderia prescindir. Era tempo de voltar. Despediu-se prometendo retornar.
E assim o fez! Em Curitiba, trocou a Escola de Serviço pelo curso de Biblioteconomia. Em Paris, obteve o diploma superior de Língua e Literatura Francesa.
Casou-se com um homem das letras, o jornalista solar Ivar Feijó e juntos transitaram pelos bastidores político e cultural do país. Atores como Paulo Autran, Cláudio Correa e Castro, Maria de La Costa e Cleide Yáconis frequentavam sua casa antes do divórcio que os separou.
Sua amada França se tornou sua segunda pátria após o casamento com o poeta francês Jean Dobignies radicado em Curitiba. Uma grande casa no Jardim das Américas abrigou a união perfeita. Mas não era suficiente.
Maria Thereza jamais parou. Proferia palestras e conferências em cursos, seminários e congressos. Foi a bibliotecária da Casa Romário Martins, da Procuradoria Geral do Estado, da Curadoria do Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná, da Casa da Memória, do Museu da Gravura, e assistente artística e cultural da Fundação Cultural de Curitiba. Publicou artigos, crônicas e contos em jornais, revistas e informativos. Ela fez da coragem e do desprendimento sua marca na defesa dos ideais erigidos em sua alma pela infância risonha na Lapa, a presença forte de sua família, e os amores com que o destino alinhavou sua existência.
Foi de Teresa Teixeira de Brito a costura decisiva que trouxe para a Academia Feminina de Letras do Paraná essa acadêmica que tenho a honra de suceder. Também a ela agradeço as informações e depoimentos sobre quem foi Maria Thereza de Brito Lacerda. “Um ser corajoso que com inteligência, superioridade e talento venceu os obstáculos que a vida lhe impõe”, segundo Céres de Ferrante. “Uma personalidade atraente e instigante, cujo olhar inquieto ora dança na busca da harmonia, ora mostra a doce pureza da ama de quem vislumbra a essência do belo.” Nas palavras de Chloris Casagrande Justen. Aquela que, nas palavras de Teresa Teixeira Brito, “se incomodava com a dor dos que nunca são lembrados”, estará sempre entre nós, como elos que somos da grande obra do Criador.
2018 - Presente 4° ocupante

Escritora, roteirista e gestora, Rita Cassitas é uma contadora de histórias contemporâneas. Seus textos ficcionais e ensaios movimentam ideias em meio a memórias, ciências e imaginação.
Antes da literatura e do cinema, Rita Cassitas fez carreira na área tecnológica no Brasil e exterior, sem se desvincular da área acadêmica. Como professora, integrou a equipe de várias instituições de ensino superior. Como aluna, especializou-se em Engenharia da Informação, Didática do Ensino Superior, e Filosofia e Existência. Mestre e Doutora em Comunicação e Linguagens como bolsista PROSUP/CAPES, com ênfase em cinema interativo.
Rita Cassitas presidiu a Academia Feminina de Letras nas gestões 2020-2021 e 2024-2025. A autora de romances e ensaios premiados publicados no Brasil e no exterior, deixou de adotar o nome literário Cassia Cassitas em 2024, e passou a assinar suas obras como Rita Cassitas.
“Um dos últimos atos de nossa Presidente Emérita, a saudosa Lygia Lopes dos Santos, foi a indicação de Cassia Cassitas para ocupar uma das cadeiras vagas. Do arguto olhar de Lygia não escapou as qualidades de Cássia Cassitas tão em consonância com os valores defendidos pela Academia Feminina de Letras do Paraná e com as integrantes da Cadeira que ora assume. A Cadeira número 1 que ora Cassia Cassitas assume como 4ª ocupante, tem como patrona Rachel Prado: 1ª ocupante Ilnah Secundino, 2ª ocupante Olga Gutierrez e 3ª ocupante Maria Tereza Brito de Lacerda. - Além de beletristas, essas escritoras foram agentes de ações corajosas no enfrentamento de preconceitos e quebras de tabus, que resultaram em mudanças de comportamento, no tocante a atuação da mulher na sociedade. [...] Tal como suas antecessoras da Cadeira número 1, Cássia Cassitas tem revelado coragem e determinação. Traduz isso na frase que para ela é um lema: “O difícil é diferente do impossível”. – Apresentação de Cassia Cassitas na Solenidade de Posse, por Teresa Teixeira de Britto, ocupante da cadeira nº 23.
“Dentre seus prêmios, destacamos: Medalha do Mérito Litero-Cultural Euclides da Cunha, ALB/Suíça - 2017; Menção honrosa em reconhecimento do trabalho em prol da capital paranaense, Assembleia Legislativa do Estado do Paraná - 2017; e Premiação da Secretaria da Comunicação Social e da Cultura do Estado do Paraná - Edital 005/2020 Outras Palavras - Prêmio de Obras Literárias pelo livro "Conectados".
Além do retrato esboçado acima, de uma mulher com um perfil intelectual invejável e desempenhando tantas funções relevantes, o que mais eu posso dizer da Cássia Cassitas que conheço? Conviver com ela é motivador, principalmente porque sua presença sempre gentil, calorosa e meiga transborda gentilezas. Sua incessante busca por novos conhecimentos ilumina a todos que a cercam, sempre com um belo sorriso. Só me resta desejar que este novo livro seja um merecido sucesso, seguido de muitos outros que ainda virão.” – apresentação da autora de Sociedade Tecnológica, pela Profª. Drª Denise Azevedo Duarte Guimarães, ocupante da cadeira nº 3.
“Certamente é mais fácil levantar perguntas do que encontrar respostas plausíveis para todas elas. Mostra a capacidade e o desejo de ir sempre em frente, o que é elogiável. Cassia vai continuar, bem como outros pesquisadores poderão estar motivados para a busca de soluções, com instrumentos que dominam, aos impasses e às contradições constatadas no movimento da realidade aumentada imagética do filme, compreendida amplamente como liberdade de vida, de criação e de respeito mútuo entre a população de uma sociedade moderna. [...] Encerro com palavras e inferências da própria autora: ‘No filme, a realidade aumentada possibilita aos coadjuvantes, seja quanto indivíduos, seja na representação de classes, desvelarem suas preferências diante dos olhos da sociedade que os observa. Personagens híbridos, bizarros remetem à dialética da alteridade do transumanismo, que, gradativamente, se insere no cotidiano da contemporaneidade. Por meio de arquéticos mitológicos e religiosos, o enredo estabelece relações inusitadas nas ruas de uma Nova York, cada qual à sua maneira, pratica a oralidade da diversidade. Com sua mise en scéne colorida, o cineasta insere O Congresso futurista no mecanismo de produção hollywoodiano para alterá-lo, despojar-se do convencionado, ultrapassar inviabilidades e cravar o traço de composição comunicacional que atravessa toda a sua obra: alteridade e inclusão.’ Parabéns, Cassia, pelo desejo de experiências exitosas pela personalidade marcante que você enseja a todos que contigo têm a felicidade de partilhar.” – Prefácio de Sociedade Tecnológica de autoria da Proª. Drª Maria Rosário Knechtel, ocupante da cadeira nº 30.
Fonte:
Informações fornecidas pela acadêmica Rita de Cassia Martelozo Cassitas Cavalcante de Lima na Academia Feminina de Letras do Paraná.
Informações do acervo da Academia Feminina de Letras do Paraná.

